A onda de violência no Rio de Janeiro foi noticiada com destaque pela imprensa de língua alemã. As publicações logo chamam atenção para um fato que atinge, diretamente, a comunidade internacional: a cidade sob ataque será uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 e receberá os Jogos Olímpicos em 2016.
A revista Der Spiegel descreve o que chama de "cenas de uma guerra": a presença de helicópteros e tanques nas ruas da cidade. Segundo a publicação online, "o governo brasileiro quer acabar de qualquer maneira com o poder das gangues até o Mundial de futebol".
Criança presencia violência na Vila Cruzeiro
Citando o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, o Der Spiegel diz que "nenhuma polícia do mundo seria capaz de conseguir o feito da polícia brasileira".
As palavras favela e "slum", do inglês, são usadas pela imprensa alemã para caracterizar a Vila Cruzeiro. O jornal Süddeutsche Zeitung pega emprestado outros termos em português em suas matérias jornalísticas: traficantes e Cidade Maravilhosa.
Tropa de Elite na vida real
Sob o título "Isso é guerra", o alemão Süddeutsche Zeitung conta o que se passa no Rio de Janeiro, fazendo referência ao roteiro de Tropa de Elite 2. "A realidade parecia ter se tornado pacífica, mas agora a batalha contra os traficantes voltou e espalha medo e terror na cidade que vai receber a Copa em 2016 e as Olimpíadas em 2016", escreve o jornal
A publicação de Munique se aprofunda na descrição do contexto das favelas e da ação do tráfico no Rio de Janeiro. Chega, inclusive, a citar as facções criminosas Comando Vermelho e Amigos dos Amigos que, segundo o jornal, "comandam muitas das ações de dentro do presídio".
Apesar do número de policiais e recursos usados na operação, diz o Süddeutsche Zeitung, "os traficantes estão tão bem armados quanto o Exército", lembrando o episódio em que os criminosos derrubaram um helicóptero.
Ônibus incendiado em Rio Comprido
Como no roteiro do filme de José Padilha – mas sem fazer menção direta ao Tropa de Elite nesse ponto do texto –, o jornal bávaro diz que "a polícia é muitas vezes corrupta e inescrupulosa, que os policiais à paisana matam com frequência inocentes, ativistas dos direitos humanos lamentam a limpeza social. Há ainda as impiedosas milícias, muitas comandadas por ex-policiais".
UPP
O Neue Zürcher Zeitung, de Zurique, crê que "o fim da violência é imprevisível". Segundo o jornal, o objetivo dos criminosos parece ser a demonstração de seu potencial de perigo, e também intimidar a população.
A publicação suíça descreve o trabalho da Polícia Pacificadora nas favelas e ressalta que a ação também se estende "a zonas turísticas do Rio". O jornal conta que teria sido achado um bilhete no banco de um dos ônibus queimados, com a mensagem: "Com a Polícia Pacificadora, não haverá Jogos Olímpicos".
Todas as publicações citadas dizem que a onda de ataques criminosos seria uma reação à presença da Polícia Pacificadora nas favelas do Rio de Janeiro. Elas não acertam, no entanto, o número de comunidades que têm as UPPs: o Der Spiegel fala em 14, o Neue Zürcher Zeitung diz que são 13, quando, na verdade, a cidade do Rio de Janeira conta com 12 UPPs em funcionamento.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer
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